segunda-feira, 7 de maio de 2012

Geodiversidade, ou a "memória" da Terra


 Serra de Montejunto (lembrança, génese)

A Terra gerou, ao longo de largos milhares de anos e com pouco mais do que uma centena de elementos químicos, cerca de 3500 espécies de minerais que deram origem a centenas de rochas diferentes. Estas, apresentaram-se como substrato que possibilitou o aparecimento e permanência de muitas espécies vivas, e por conseguinte, da biodiversidade (Pereira et al, 2008).

A geodiversidade engloba, pois, os minerais e rochas, mas também fósseis, solos, formas de relevo e processos geológicos activos. Portanto, a diversidade geológica constitui-se como causa primordial para a variedade de ambientes onde foi possível que a Vida surgisse e evoluísse, uma vez que a distribuição e sobrevivência das diversas espécies vivas da Terra depende das condições físicas e químicas do meio que ocupam. Ainda assim, a biodiversidade conquistou um “estatuto” superior ao da geodiversidade (por não ser “viva”?). O próprio conceito, surgiu tarde: apenas em 1993, na Conferência de Malvern, sobre Conservação Geológica e Paisagística (Brilha, 2005).

[“Foi a Terra, com os ambientes geológicos que têm caracterizado a sua longa existência, que deu berço à Vida e tem permitido, em interacção com ela, a evolução biológica de que a espécie humana, surgida no último milhão de anos, é hoje a expressão mais complexa e evoluída” (Carvalho in Brilha, 2005:11)].


Normalmente, áreas que abarcam uma considerável geodiversidade, são também as que criam mais condições para que se expanda a diversidade biológica. Por exemplo, no nosso país, podemos encontrar serras e planaltos graníticos, relevos e solos vulcânicos. Para além de calcários e grutas, algumas com rios subterrâneos, planícies sedimentares, praias, dunas, solos com diferentes constituintes, e outros ambientes geológicos, que servem de “casa” a uma panóplia de seres marinhos e terrestres.

Em suma, podemos definir Geodiversidade como variedade e diversidade de ambientes geológicos, fenómenos e processos activos, que originam paisagens, rochas minerais, fósseis, solos e outros depósitos a nível superficial, e que constituem o suporte para a vida na Terra (Pereira et al, 2008; Brilha, 2005). Englobam-se, aqui, todos os materiais e processos geológicos que fazem com que o planeta seja como é e o modificam (em termos de estrutura e superfície). A geodiversidade, em conjunto com a biodiversidade, define a essência material do nosso planeta, mostrando como foi evoluindo e transformando-se com o tempo.

Geoconservação
Reporta-se a ações levadas a cabo em termos políticos, organizacionais ou por iniciativa da sociedade civil, no sentido de preservar e defender a diversidade geológica. Existem locais onde a diversidade geológica ocorre com especial interesse: são os geossítios (Pereira et al, 2008), que se constituem como um ou mais elementos de geodiversidade, com delimitação geográfica e valor único em termos científicos, didático-pedagógicos, culturais, turísticos e estéticos. Por serem património geológico privilegiado, necessitam de um especial esforço de preservação. Assim, a geoconservação tem como finalidade a manutenção e gestão do património geológico e dos processos naturais que lhe estão ligados.

Património Geológico
Conjunto de casos concretos de geodiversidade que se optou preservar e conservar, muitas vezes, devido à sua riqueza ou raridade, através de medidas especiais de proteção, eventualmente, de cariz legal. São os geossítios inventariados e presentes numa dada área ou região.


O Valor dos Recursos Geológicos e os perigos a eles subjacentes
A Geodiversidade pode revestir-se de:
  • Valor intrínseco: é o mais subjetivo dos valores, porque se liga a mundivisões, perspetivas culturais, filosóficas e religiosas, próprias das sociedades e locais. Para muitos, não há qualquer relevância em conservar o que não tem existência biológica. Outros, assumem uma postura sobretudo antropocêntrica em termos éticos.
  • Valor Cultural: deriva da relação próxima dos indivíduos com o meio geológico que os rodeia, retirando daí mais valias culturais e/ou religiosas, e.g, stonehenge. Em Portugal, sucede que muitas localidades foram buscar o seu nome a referências geológicas presentes na região.
  • Valor Económico: Os recursos minerais e energéticos não renováveis são a base do desenvolvimento das sociedades actuais. A exploração de rochas, minerais e combustíveis fósseis, em pedreiras, minas, poços e plataformas petrolíferas, tem satisfeito as nossas necessidades de materiais e recursos, mas reveste-se de sérias implicações ambientais, económicas e sociais.
  • Valor Funcional: pode ser entendido em termos de valor utilitário, ou em termos de base de sustentação dos sistemas físicos e ecológicos da superfície terrestre (Brilha, 2005)
  • Valor Científico e Educativo: no que se refere às Ciências da Terra, permitindo a “análise no terreno” e um melhor conhecimento dos processos geológicos. Em termos educativos, são importantes as “visitas de campo” e o contacto direto com a geodiversidade, sempre que isso não suponha uma sobreexposição.
  • Valor estético e artístico: devido às maravilhosas formas que a diversidade geológica pode assumir, ela sempre inspirou artistas, poetas e escritores.

Por ser tão valiosa, a diversidade geológica também é muito sensível a algumas ameaças, onde se incluem:
  • O turismo de massas.
  • A depleção de material geológico.
  • O desgaste dos solos e pressão sobre eles.
  • A extração de minerais preciosos, muitas vezes associados a financiamento bélico (os denominados “diamantes de sangue”).
  • O aumento demográfico global.
  • Má gestão dos recursos hídricos.

As Nações Unidas, procurando alertar a consciência mundial para uma utilização racional do conhecimento científico no domínio das Geociências, decidiu proclamar 2008 como o Ano Internacional do Planeta Terra (www.anoplanetaterra.org), comemorações integradas na Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2004-2015).


               Diversidade Geológica: Um Sem-Número de Manifestações
fonte:  http://webpages.fc.ul.pt/~cmsilva/Paleotemas/Geodiversidade/Geodiver.htm


Referências
-BRILHA, José, (2005), Património Geológico e conservação. A conservação da Natureza na Sua Vertente Geológica, Braga, Palimage Editores. ISBN: 972-8575-Disponível em http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/mod/resource/view.php?id=2371861. Consultado a 06-05-2012

-Geodiversidade, Temas de Paleontologia, Departamento de Geologia, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Disponível em  http://webpages.fc.ul.pt/~cmsilva/Paleotemas/Geodiversidade/Geodiver.htm. Consultado a 06-05-2012

-PEREIRA, D. et al (2008), Geodiversidade, Valores e Usos, Braga, Universidade do Minho, ISBN: 978-972-95255-6-8. Disponível em

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