Geodiversidade, ou a
"memória" da Terra
Serra de Montejunto (lembrança, génese)
A Terra gerou, ao longo de largos milhares de anos e com
pouco mais do que uma centena de elementos químicos, cerca de 3500 espécies de minerais
que deram origem a centenas de rochas diferentes. Estas, apresentaram-se como
substrato que possibilitou o aparecimento e permanência de muitas espécies
vivas, e por conseguinte, da biodiversidade (Pereira et al, 2008).
A geodiversidade engloba, pois, os minerais e rochas, mas também
fósseis, solos, formas de relevo e processos geológicos activos. Portanto, a diversidade
geológica constitui-se como causa primordial para a variedade de ambientes onde
foi possível que a Vida surgisse e evoluísse, uma vez que a distribuição e
sobrevivência das diversas espécies vivas da Terra depende das condições
físicas e químicas do meio que ocupam. Ainda assim, a biodiversidade conquistou
um “estatuto” superior ao da geodiversidade (por não ser “viva”?). O próprio
conceito, surgiu tarde: apenas em 1993, na Conferência de Malvern, sobre
Conservação Geológica e Paisagística (Brilha, 2005).
[“Foi a Terra, com os ambientes geológicos que têm
caracterizado a sua longa existência, que deu berço à Vida e tem permitido, em
interacção com ela, a evolução biológica de que a espécie humana, surgida no último
milhão de anos, é hoje a expressão mais complexa e evoluída” (Carvalho in Brilha,
2005:11)].
Normalmente, áreas que abarcam uma considerável
geodiversidade, são também as que criam mais condições para que se expanda a
diversidade biológica. Por exemplo, no nosso país, podemos encontrar serras e
planaltos graníticos, relevos e solos vulcânicos. Para além de calcários e
grutas, algumas com rios subterrâneos, planícies sedimentares, praias, dunas,
solos com diferentes constituintes, e outros ambientes geológicos, que servem de
“casa” a uma panóplia de seres marinhos e terrestres.
Em suma, podemos definir
Geodiversidade como variedade e diversidade de ambientes geológicos,
fenómenos e processos activos, que originam paisagens, rochas minerais,
fósseis, solos e outros depósitos a nível superficial, e que constituem o
suporte para a vida na Terra (Pereira et al, 2008; Brilha, 2005). Englobam-se,
aqui, todos os materiais e processos geológicos que fazem com que o planeta
seja como é e o modificam (em termos de estrutura e superfície). A
geodiversidade, em conjunto com a biodiversidade, define a essência material do
nosso planeta, mostrando como foi evoluindo e transformando-se com o tempo.
Geoconservação
Reporta-se a ações
levadas a cabo em termos políticos, organizacionais ou por iniciativa da
sociedade civil, no sentido de preservar e defender a diversidade geológica.
Existem locais onde a diversidade geológica ocorre com especial
interesse: são os geossítios (Pereira
et al, 2008), que se constituem como
um ou mais elementos de geodiversidade, com delimitação geográfica e valor
único em termos científicos, didático-pedagógicos, culturais, turísticos e
estéticos. Por serem património geológico privilegiado, necessitam de um
especial esforço de preservação. Assim, a geoconservação tem como finalidade a
manutenção e gestão do património geológico e dos processos naturais que lhe
estão ligados.
Património Geológico
Conjunto de casos
concretos de geodiversidade que se optou preservar e conservar, muitas vezes, devido
à sua riqueza ou raridade, através de medidas especiais de proteção,
eventualmente, de cariz legal. São os geossítios inventariados e presentes numa
dada área ou região.
O
Valor dos Recursos Geológicos e os perigos a eles subjacentes
A Geodiversidade pode revestir-se de:
- Valor intrínseco: é o mais subjetivo dos valores, porque se liga a mundivisões, perspetivas culturais, filosóficas e religiosas, próprias das sociedades e locais. Para muitos, não há qualquer relevância em conservar o que não tem existência biológica. Outros, assumem uma postura sobretudo antropocêntrica em termos éticos.
- Valor Cultural: deriva da relação próxima dos indivíduos com o meio geológico que os rodeia, retirando daí mais valias culturais e/ou religiosas, e.g, stonehenge. Em Portugal, sucede que muitas localidades foram buscar o seu nome a referências geológicas presentes na região.
- Valor Económico: Os recursos minerais e energéticos não renováveis são a base do desenvolvimento das sociedades actuais. A exploração de rochas, minerais e combustíveis fósseis, em pedreiras, minas, poços e plataformas petrolíferas, tem satisfeito as nossas necessidades de materiais e recursos, mas reveste-se de sérias implicações ambientais, económicas e sociais.
- Valor Funcional: pode ser entendido em termos de valor utilitário, ou em termos de base de sustentação dos sistemas físicos e ecológicos da superfície terrestre (Brilha, 2005)
- Valor Científico e Educativo: no que se refere às Ciências da Terra, permitindo a “análise no terreno” e um melhor conhecimento dos processos geológicos. Em termos educativos, são importantes as “visitas de campo” e o contacto direto com a geodiversidade, sempre que isso não suponha uma sobreexposição.
- Valor estético e artístico: devido às maravilhosas formas que a diversidade geológica pode assumir, ela sempre inspirou artistas, poetas e escritores.
Por ser tão valiosa, a diversidade geológica também é muito
sensível a algumas ameaças, onde se incluem:
- O turismo de massas.
- A depleção de material geológico.
- O desgaste dos solos e pressão sobre eles.
- A extração de minerais preciosos, muitas vezes associados a financiamento bélico (os denominados “diamantes de sangue”).
- O aumento demográfico global.
- Má gestão dos recursos hídricos.
As Nações Unidas, procurando alertar a consciência mundial
para uma utilização racional do conhecimento científico no domínio das Geociências,
decidiu proclamar 2008 como o Ano Internacional do Planeta Terra (www.anoplanetaterra.org), comemorações
integradas na Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável
(2004-2015).
Diversidade Geológica: Um Sem-Número de Manifestações
fonte: http://webpages.fc.ul.pt/~cmsilva/Paleotemas/Geodiversidade/Geodiver.htm
Referências
Referências
-BRILHA, José, (2005), Património Geológico e
conservação. A conservação da Natureza na Sua Vertente Geológica, Braga, Palimage
Editores. ISBN: 972-8575-Disponível em http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/mod/resource/view.php?id=2371861.
Consultado a 06-05-2012
-Geodiversidade, Temas de Paleontologia, Departamento de
Geologia, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Disponível em http://webpages.fc.ul.pt/~cmsilva/Paleotemas/Geodiversidade/Geodiver.htm.
Consultado
a 06-05-2012
-PEREIRA, D. et al (2008), Geodiversidade, Valores e Usos, Braga,
Universidade do Minho, ISBN: 978-972-95255-6-8. Disponível em
http://www.dct.uminho.pt/docentes/pdfs/jb_pereiras.pdf.
Consultado a 06-05-2012
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