terça-feira, 17 de abril de 2012

Tema 1 - As Ameaças à Biodiversidade

A biodiversidade relaciona-se com vasto leque de serviços que contribuem inexoravelmente para o bem estar humano, assim como, para a preservação dos ecossistemas naturais.
A proteção da Biodiversidade não pode fazer-se à revelia do conhecimento que temos sobre ela. Isto consciencializa-nos para o facto que determinadas espécies poderão desaparecer antes mesmo de termos tempo de conhecê-las e estudá-las ["we know more about the total numbers of atoms in the universe than about Earth´s complement of species" (Myers, 1996;125)].

De qualquer modo, é notório que assistimos à depleção crescente de espécies a um ritmo que pode tornar difícil a salvaguarda dos ecossistemas tal como os conhecemos. Existem ainda redutos de biodiversidade, os hotspots - estima-se que cerca de 20% das espécies de plantas e mais ainda de espécies animais, estejam confinadas a 0.5% da superfície terrestre, sendo aí, endémicas. Se os habitats locais forem destruídos ou eliminados, estas espécies extinguir-se-ão (Myers, 1996).

Os hotspots situam-se, sobretudo, nas florestas tropicais e zonas mediterrâneas; o que não significa que outras áreas, como os recifes de coral ou os lagos tropicais e as zonas húmidas, não merecessem também a nomenclatura. Na verdade, os lagos e rios contêm pelo menos 8,400 espécies de peixes (cerca de 40% das espécies identificadas até ao momento). Estes sistemas aquáticos suportam quase um quarto da diversidade conhecida, em menos de 0.01% da água disponível no Planeta. Contudo, estão a ser destruídos a um ritmo superior ao das florestas tropicais. Os lagos Victoria, Tanganyika e Malawi albergam aproximadamente 1,450 espécies de peixes, sendo que cerca de 76% das espécies conhecidas, são endémicas. (Myers, 1996). As zonas húmidas encontram-se, também, em perigo, uma vez que se tenta adaptá-las para se suprirem as necessidades humanas. Por isso, perdeu-se em média, metade das zonas húmidas mundiais, no decurso no século XX. O Pantanal é a zona húmida mais conhecida, e também, uma das mais fustigadas pela agricultura, desflorestação, construção de barragens e diques, exploração mineira e industrial, sobrepesca, procura de produtos da vida selvagem e de animais exóticos. Os stocks de água estão, igualmente, irremediavelmente contaminados devido às atividades humanas.

A biodiversidade situa-se, não apenas ao nível das espécies, mas também de subunidades e dos ecossistemas. Naturalmente, algumas espécies estarão mais bem preparadas do que outras para as mudanças que se vão operando. De qualquer modo, permanece uma questão central: Que forma de biodepleção (espécies, populações, variabilidade genética) terá efeitos mais adversos e repercussões biosféricas? ["Which form of biodepletion (species, populations, genetic variability) will eventually induce the more edverse biospheric repercussions?" (Myers, 1996; 131)]

Mesmo sem se encontrarem respostas para certas inquietações, sabe-se que a biodiversidade não se encontra distribuída de modo igual no nosso planeta e que os motores da perda de diversidade biológica e alterações nos serviços dos ecossistemas não têm declinado ao longo do tempo e/ou crescem em termos de intensidade. O Millenium Ecosystem Assessment (2005) destaca cinco causas globais, que decorrem essencialmente, da ação antropogénica, seja de modo direto ou indireto:
  • demográficas
  • sociopolíticas
  • económicas
  • culturais e religiosas
  • científicas e tecnológicas

Mais explicitamente, poderíamos referir:

  • perda e fragmentação de habitats.
  • introdução de espécies novas e invasivas.
  • sobreexploração dos recursos existentes, com o aumento crescente do consumo e dos gastos dos serviços fornecidos pelos ecossistemas e o recurso aos combustíveis fósseis.
  • uso excessivo de espécies de animais e plantas, bem como, a utilização dos solos como terrenos agrícolas e criação intensiva de gado.
  • redução da diversidade genética, sobretudo no que diz respeito às plantas e animais domésticos.
  • contaminação das águas, dos solos e da atmosfera, devido a poluentes e mudanças físicas nos cursos de água, drenagem de pântanos e de outras zona húmidas.
  • alterações climáticas.
  • poluição.
  • turismo.
  • aumento da população global.
  • apesar de tudo, nas últimas décadas, fomentaram-se políticas nacionais e internacionais, bem como, ações de consciencialização e de esclarecimento, que colocaram estes problemas na ordem do dia. O desenvolvimento do conhecimento científico e tecnológico, fez-nos perceber que a preservação da diversidade biológica, necessita de destes meios (e.g. "bancos" de genes).

Temos vindo, pois, a assistir ao longo dos tempos, a tendências que tiveram o seu impacto nos biomas e influenciaram, de um modo ou de outro, a biodiversidade. Os níveis atuais de alteração e perda da diversidade biológica, excedem em muito, os do passado, em várias ordens de magnitude e, no geral, não mostram sinais de abrandamento. Foi maior a percentagem de terra convertida em pastagens nos anos que se seguiram à década de 1950, do que nos 150 anos entre 1700 e 1850 ["More lans was converted to cropland in the 30 years after 1950 than in the 150 years between 1700 e 1850" (Millenium Ecosystem Assessment, 2005; 42)]. Embora as mudanças se façam sobretudo sentir nos países em vias de desenvolvimento (também, mais vulneráveis), os países industrializados já experienciaram antes, alterações consideráveis.

Main Direct Drivers on Biodiversity


Fonte: Millenium Ecosystem Assessment http://www.millenniumassessment.org/documents/document.354.aspx.pdf-Consultado a 18/04/2012

Independentemente de no passado, terem acontecido episódios de extinção em massa, o que se passa nos nossos dias, fará desaparecer não apenas as espécies mas também os meios que poderiam permitir, de certa maneira, a restauração dos ecossistemas. Estima-se que, a existir, o período de recuperação seja muito longo ["a minimum of 5 million years" (Myer, 1996; 133)] e penoso para as gerações vindouras ["The present generation is effectively impsing a decision on the unconsulted behalf of at least 200.000 follow-on generations" (Myer, 1996; 133)].

Os processos de mitigação, assim como uma possível alteração do cenário atual, não podem descurar a monitorização da biodiversidade existente, nem os fatores que a afetam, ou sequer, os impactos das ações que se destinam a protegê-la, compreendidos num conjunto de respostas efetivas e eficientes, também em termos de custos. ["Only by monitoring the state of global diversity, the drivers that affect it, and the impact of interventions designed to protect it, will we be able to identify and implemnet the most cost-effective and efficient responses to biodiversity loss" ( WWF, 2010; 2)

Biodiversity Loss, Human Pressure and the Ecological Footprint

Fonte: WWF- http://www.footprintnetwork.org/images/uploads/CBD_2010_and_Beyond.pdf. Consultado a 18/o4/2012


Referências:
-Millennium Ecosystem Assessment Report (2005) Ecosystems and Human Well-being, Biodiversity Synthesis. World Resources Institute, Washington, DC. Disponível em http://www.millenniumassessment.org/documents/document.356.aspx.pdf
-WWF (2010) 2010 and Beyond: Rising to the Biodiversity Challenge, Living Conservation, Global Footprint Network. Disponível em http://www.footprintnetwork.org/images/uploads/CBD_2010_and_Beyond.pdf
-MYERS, Norman - The Rich Diversity of Biodiversity Issues in Biodiversity II: Understanding and Protecting our Biological Resources, Washington DC, Joseph Henry Press, 1996, p.125-137. Consultado em 17/04/2012