
Tema 1 - O Valor da Biodiversidade
Porque deve proteger-se a Diversidade Biológica?
A conservação da biodiversidade é um objetivo fundamental das políticas europeias e nacionais. A Estratégia Nacional Para o Desenvolvimento Sustentável (ENDS 2005-2015), refere que os problemas atuais de desenvolvimento e de ambiente, são muitos e alguns deles globais, destacando-se:
- Um acelerado processo de urbanização (devido, também, ao rápido crescimento demográfico, o que acaba por exercer pressão sobre os ecossistemas).
- A ameaça constante das alterações climáticas e suas consequências, como a escassez hídrica e má qualidade da água, bem como, a destruição de habitats e organismos, a perturbação dos ciclos de reprodução e a deslocação forçada.
- A perda de biodiversidade generalizada.
- A desflorestação acentuada (sobretudo, dos denominados “santuários” de diversidade biológica, como a floresta amazónica ou a ilha de Madagáscar, com a decorrente extinção em massa de espécies, por vezes, raras).
- A aceleração dos processos de desertificação e erosão dos solos.
- A crescente poluição e degradação de mares e oceanos.
- O aumento de substâncias perigosas no ambiente, nas águas, no ar e nos solos.
Poderíamos acrescentar ainda, o turismo, a sobreexploração dos recursos biológicos, a difusão de espécies invasivas, a pressão exercida por um comércio globalizado e a má governação.
Embora os processos de extinção de espécies não sejam recentes, a nossa época é crítica [“the current reduction of diversity seems destined to approach that of the great natural catastrophes of the end of the Paleozoic and Mesozoic eras - in other words, the most extreme in the past 65 million years” (Wilson, 1988; 9)]. A situação é tão urgente, que corremos o risco de perder definitivamente, espécies que nem tivemos tempo de descobrir e estudar.
Fonte: http://www.princeton.edu/~ina/infographics/water.html - Consultado a 28/03/2012
· Variabilidade genética.
· Manutenção do equilíbrio dos ecossistemas.
· Possibilidade de aproveitar milhares de plantas na alimentação (ao invés da restrita escolha permitida pelos sistemas de monocultura e de produção agrícola intensiva).
· Novas substâncias para as indústrias farmacêuticas.
· Outras fibras, para além das sintéticas e/ou derivadas do petróleo.
· Insetos usados como eficazes polinizadores, controladores de ervas daninhas e de parasitas.
· Bactérias, leveduras e microorganismos com préstimo na medicina, na alimentação e na restauração dos solos.
· A insubstituibilidade dos serviços naturais pela Ciência e Tecnologia humanas.
Além das funções já referidas, a biodiversidade possibilita, ainda:
- Um importante leque de recursos variados.
- Formas de subsistência e manutenção de modos de vida tradicionais.
- A fruição estética e o êxtase religioso (a espiritualidade da natureza, própria de certas culturas).
- Atividades culturais, desportivas e recreativas.
- Maior bem-estar e qualidade de vida.
Nesta linha, o objetivo principal do Millenium Ecosystem Assessment apresenta-se como tentativa de estabelecer as bases científicas das ações necessárias para promover a conservação e o uso sustentável dos ecossistemas e suas contribuições para a satisfação das necessidades humanas. [“The goal of the Millenium Ecosystem Assessment is to establish the scientific basis for actions needed to enhance the conservation and sustainable use of ecosystems and their contributions to meeting human needs”. (2005, Preface)]
Linkages among Biodiversity, Ecosystem Services and Human Well-Being
A RCM nº 152/2001 de 11 de Outubro, que aprova a Estratégia Nacional da Conservação da Natureza e da Biodiversidade reconhece que “A existência de uma estratégia nacional de conservação da Natureza e da biodiversidade (ENCNB) é, reconhecidamente, um instrumento fundamental para a prossecução de uma política integrada num domínio cada vez mais importante da política de ambiente e nuclear para a própria estratégia de desenvolvimento sustentável”. (p.1)
Apontamento Final:
Pelo que foi exposto, conclui-se que, qualquer intervenção dos indivíduos, dos governos ou das organizações para travar a escalada da perda de diversidade biológica, tem de passar primeiro por uma clarificação dos conceitos. Alguns autores (Wilson, 1988), mencionam, como complemento, a articulação necessária entre as políticas a adotar e um incremento da própria investigação científica. As Agências Internacionais têm uma responsabilidade na minimização dos danos ambientais, uma vez que é seu o poder de aprovar ou desaprovar os projetos que chegam até si e financiá-los.
Por fim, concordo com o autor quando aponta que, em última instância, subjaz à análise destas temáticas, uma fundamentação ética. Como valoramos o mundo natural? Em função do quê? Como assumimos o nosso estatuto de indivíduos? Como gerimos a ânsia de expansão da nossa liberdade pessoal com o dever de respeitar o nosso entorno? A biodiversidade deverá ser preservada no seu todo, ou certas espécies são mais “valiosas” do que outras? Quais são os critérios que deverão presidir a esta escolha?
Notas Bibliográficas
-Estratégia Nacional Para o Desenvolvimento Sustentável e Plano de Implementação (ENDS 2005-2015), Presidência do Conselho de Ministros, Dezembro de 2006. Disponível em http://www.dpp.pt/pt/ENDS2015/Documents/ENDS_2015-ParteI_Estrategia.pdf
-Millennium Ecosystem Assessment Report (2005) Ecosystems and Human Well-being, Biodiversity Synthesis. World Resources Institute, Washington, DC. Disponível em http://www.millenniumassessment.org/documents/document.356.aspx.pdf
-Resolução do Conselho de Ministros nº 152/2001 de 11-10-2001, in Diário da República nº 236 Série I Parte B
- Wilson, E.O. (1988), The Current State of Biological Diversity, ed. E.O. Wilson, Washigton DC, National Academy Press, pp.3-18. Disponível em http://www.ciesin.org/docs/002-256a/002-256a.html
Colega Ana boa tarde (no Brasil 15:45h), na indagação que pontuas: Por que deve proteger-se a Diversidade Biológica, respondo-a com o texto abaixo:
ResponderEliminar“Verifica-se aumento do número de refugiados ambientais. Os refugiados ambientais já somam 25 milhões de pessoas e estima-se que até o ano 2020, aproximadamente 60
Milhões de pessoas se deslocarão das áreas desertificadas da África subsaariana em direção ao norte da África ou Europa. No entanto, esta migração sul-norte é ínfima quando comparada às migrações internas que ocorrem dentro da própria África. A maioria dos refugiados internos se estabelece nas já populosas megacidades, uma tendência problemática em vista dos poucos recursos disponíveis, como a água. “Reféns de um ambiente em degradação, sem acesso à água potável e com os preços de alimentos cada vez mais altos, os refugiados e as populações locais estão sujeitos à pobreza, doenças e a rebeliões”. http://knowledge.allianz.com 19 de março de 2008.
E digo mais: as notícias apontadas neste texto permitem demonstrar um aspecto emergente que é a correlação entre a natureza, sua preservação e destruição, o bem estar humano e, por fim, o dinheiro. Para nossa sorte a natureza sempre teve o papel de prover as necessidades do homem.
Nas últimas décadas, no entanto, a complexa relação entre a riqueza humana, o bem-estar e a biodiversidade, os ecossistemas e seus serviços estão sendo compreendidos a partir de sua dimensão econômica. O progresso cada vez mais acelerado, em detrimento da escala de produção das grandes indústrias. Conseqüentemente pagamos muito caro com esta gigantesca produção em larga escala- gases tóxicos no ar, poluição das águas, desmatamentos, declínio e extinção de espécies afetadas negativamente pela atividade humana. Apesar da percepção de que estes fenômenos estão de alguma maneira interligados, parece existir a expectativa de que tudo será “normalizado” em breve. E não é bem assim. As diversas dimensões da perda de biodiversidade e as mudanças climáticas e o desenvolvimento econômico estão explicitamente ignorados, face ao que presenciamos todos os dias nos jornais – derramamento de produtos tóxicos no mar, queimadas em várias partes do Planeta, enchentes. Portanto, o declínio de espécies e a degradação dos ecossistemas estão intrinsecamente ligados ao bem-estar humano e se não tomarmos medidas corretivas em caráter de urgência, não mais usufruiremos dos benefícios (alimento, água potável, madeira, energia, medicamentos oferecidos pelo meio ambiente. Neste sentido o desenvolvimento humano “também é moldado pelo meio ambiente e esta interligação tem grande importância social, cultural e estética. Sendo assim, o bem-estar de todas as populações humanas do mundo depende diretamente dos serviços fornecidos pelos ecossistemas”.
A economia dos ecossistemas e da biodiversidade – versão preliminar. http://www.teebweb.org/Portals/25/Documents/TEEB%20Interim%20Report/TEEB-%20Interim%20Portuguese.pdf